FREEZE! As imagens estão paradas. Por vezes têm o poder de nos aquietar, de nos imobilizar. Fixos ao nosso lugar, somos reduzidos ao ato de olhar, ficamos petrificados. Pode-se dizer que, nesse momento, tornamo-nos uma imagem. A história do medo, paralisador, e a petrificação são um motivo visual fértil, associado com a mítica Medusa,o belo ou muito feio monstro decapitado por Perseu. Esta história alia o olhar, decapitação, frontalidade, desvio do olhar, invisibilidade. Também é um motivo de produção de imagens como resultado de um medo intenso. O olhar da Medusa conserva o seu poder de petrificar mesmo depois de morta. O seu rosto é persistentemente descrito como frontal e frontalidade é um modo de se dirigir diretamente a quem a observa. Um olhar ousado, ela desafia-nos a olhar e paralisar, ou temos de desviar o olhar, evitar o dela e mantermo-nos vivos. Esta é uma história do ou de olhar as imagens e do nosso envolvimento emocional com elas, o mortal feitiço de olhar. É também uma história de transportar a cabeça como uma arma que simultaneamente mata e faz imagens. Lembra alguma coisa? Esta é uma história de algo que pertence à fotografia — a imagem produzida no interior de um aparelho cujo olhar vazio paralisa as coisas vivas em imagens paradas. A cabeça da Medusa, ou gorgoneion, aparece em armaduras, arquitetura, joalharia, roupa, cerâmica. Este motivo e a sua transformação num objeto que pode ser usado, marca o nosso desejo de proteção e reconhece simultaneamente o nosso medo. É também um motivo de iconopoeisis, um momento especial de criação instantânea de imagens que necessita de uma mão para as moldar, formar ou modelar. Os dois protagonistas contemporâneos que serão abordados no colóquio são a ação fotográfica e o nosso desejo de usar objetos no corpo, que entre outras coisas, é ainda o nosso desejo arcaico de proteção.
ALENA ALEXANDROVA (Amesterdão) é especialista em teoria da cultura e curadora independente. Ensina no departamento de Artes Visuais e Fotografia da Gerrit Rietveld Academy em Amesterdão. Obteve o doutoramento pela Universidade de Amesterdão. Está a escrever o livro Anarchic Infrastructures: Re-Casting the Archive, Displacing Chronologies. É autora de Breaking Resemblance. The Role of Religious Motifs in Contemporary Art (Fordham University Press, 2017), publicou internacionalmente nos campos da estética, performance e estudos visuais e contribui regularmente para exposições e catálogos. Fez a curadoria de exposições sobre o conceito de «anarqueologia». Ensinou no Master of Fine Arts, Faculty of Fine Art, Music and Design, Universidade de Bergen, Noruega, e no Dutch Art Institute, Arnhem. Foi investigadora convidada no Humanities Center, Universidade Johns Hopkins, Atelier Holsboer, Cité des Arts, em Paris, e palestrante convidada na Academy of Fine Arts, em Nuremberga.