COLÓQUIO
 
CORPO
LAUREN KALMAN: BODYHOOD E JEWELLERINESS
Liesbeth den Besten
CORPO E JOIA: TENSÕES PASSADAS, PRESENTES E FUTURAS
Ana Paula de Campos
A JOIA COMO MEIO DE CONSCIENCIALIZAÇÂO DO CORPO E DO ESPAÇO QUE O RODEIA
Bárbara Coutinho
Moderado por João Paulo Queiroz
16 de setembro, quinta
15h–18h
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Liesbeth den Besten: Lauren Kalman, «But if Crime is Beautiful», 2014. Cranbrook Art Museum. Foto: Lauren Kalman.
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Liesbeth den Besten: Lauren Kalman, «But if Crime is Beautiful», 2014. Cranbrook Art Museum. Foto: Lauren Kalman.
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LAUREN KALMAN – BODYHOOD E JEWELLERINESS. Durante os anos 1960-1980, o corpo ajudou a libertar a joalharia de requisitos ornamentais, financeiros e de representação que eram tidos como garantidos desde tempos imemoriais. Artistas como Gijs Bakker + Emmy Van Leersum (anos 1960-1970), Peter Skubic (anos 1970), Otto Künzli e Gerd Rothmann (1982), acrescentaram uma nova perspetiva ao interior, ao exterior e à perceção do corpo. Durante algum tempo, a ideia da joalharia como um objeto que reflete a moda, o gosto e a condição financeira e moral do cliente pareceu obsoleta e algo a que tínhamos de resistir.
Neste processo, o corpo substituiu a pessoa ou o cliente. O corpo passou de enquadramento necessário para pendurar uma peça a objeto performático. Por diversas razões (que não posso aprofundar aqui), esta evolução foi cortada ainda em botão, antes de poder realmente florescer.
Uma representante de uma nova geração que usa o corpo como objeto de investigação, de forma bastante radical, é Lauren Kalman. Kalman (1980) é uma artista americana interdisciplinar que usa o seu corpo, a fotografia, a escultura, a joalharia, as performances e as instalações para testar os limites do seu corpo, evocar sentimentos de repulsa e expressar ideias sobre feminismo, beleza, sexualidade e ornamento. Estudou joalharia e metais, fundição, arte e tecnologia. O seu trabalho, independentemente do tamanho ou dos meios que usa, tem um grau de «jewelleriness» que o torna único no contexto da Body Art e da Arte Feminista. Na minha conferência abordarei brevemente algumas evocações do corpo na história da joalharia contemporânea e passarei de seguida a Lauren Kalman, analisando o papel da joalharia na sua Body Art.  
 
LIESBETH DEN BESTEN (Amesterdão, 1956) é historiadora de arte e trabalha internacionalmente como escritora, curadora, professora e conferencista no campo da joalharia contemporânea. Trabalhou na Fundação Françoise van de Bosch l, como secretária-geral, entre 1992 e 2016, e como presidente em 2000. Foi membro do Comité Editorial e do Conselho de Administração do Art Jewelry Forum entre 2013 e 2019. É membro do Conselho Consultivo do Journal of Jewellery Research. Ensina, desde 2016, História da Joalharia na Saint Lucas Academy, em Antuérpia, Bélgica. Com Gijs Bakker, Ted Noten e Ruudt Peters é uma das fundadoras do Mestrado em Joalharia MASieraad. O programa temporário de dois anos MA Challenging Jewellery (2018-2020) no Sandberg Institute em Amsterdam foi o primeiro curso. A partir de 2021-2022 um novo programa permanente de mestrado MASieraad Hasselt-Amsterdam terá início na PXL-MAD School of Arts em Hasselt, Bélgica. Den Besten e os outros fundadores estão ativamente envolvidosno ensino no MASieraad H-A. É autora de diversas publicações importantes sobre crafts e joalharia contemporânea. O seu livro On Jewellery: A Compendium of International Contemporary Art Jewellery (2011), um bestseller, foi publicado pela editora arnoldsche Art Publishers. 
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Daphne (2004) 90 x 40 x 55 cm wire, cotton wadding, fabric, thread Photo Alain Hatat
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Daphne (2004) 90 x 40 x 55 cm wire, cotton wadding, fabric, thread Photo Alain Hatat
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CORPO E JOIA: TENSÕES PASSADAS, PRESENTES E FUTURAS. Se em meados dos anos 1960/1970 uma nova joalheria emergia em sintonia com uma «revolução corporal», como se configurou a relação corpo-joia em outras épocas? Essa foi a pergunta que deu inicio a minha pesquisa de pós-doutorado, cujo desafio consistiu em identificar distintas concepções de corpo e de subjetividade, relacionando-as às joias, com enfase nas funções e significados sociais dos ornamentos.
A proposta dessa palestra é apresentar alguns aspectos dessa investigaçao e convidar a repensar o par corpo-joia a partir dos diferentes contextos e significados históricos que moldaram e foram expressos por esse encontro no Ocidente. O recorte escolhido aqui enfatiza as forças que operam na articulação entre corpo e joia, bem como as que se mobilizaram a partir dela.
Nesse sentido analisar os significados que corpo e joia foram forjando ao longo do tempo implica em considerar as relações de poder que daí decorrem, ultrapassando a naturalização de alguns discursos. É preciso observar que não se trata de uma simples associação entre elementos, mas sim da construção de algo novo e distinto, capaz de ultrapassar os significados intrínsecos a ambos por meio das tensões que se produzem entre eles.
Por fim, ampliando a perspectiva dessas relações e, por que não, perturbando algumas certezas, tomaremos o tema dessa Bienal – Suor Frio – como disparador de questionamentos sobre o futuro da relação corpo-joia, especialmente diante desse cenário pandêmico e/ou pós pandêmico, com seus aspectos sem precedentes na história humana.  
 
ANA PAULA DE CAMPOS (Campinas, 1969) realizou o pós-doutoramento «Corpo Jóia e Identidade: narrativas na contramão» em Psicologia em 2018, o doutoramento «Arte-Joalheria: uma cartografia pessoal» em Artes em 2011, o mestrado «Jóia Contemporânea Brasileira: reflexões sob a ótica de alguns criadores» em Educação, Arte e História da Cultura em 1997 e o bacharelado em Desenho Industrial em 1989. Dedica-se, há mais de vinte cinco anos, a atividades académicas, culturais e de pesquisa nas áreas de design, moda e arte. Como pesquisadora e joalheira, também participou em exposições, deu palestras e publicou diversos artigos sobre adornos, materiais e corpo. Conectar a joalharia com outras áreas do conhecimento, para criar uma forma transversal de pensar e fazer, constitui o seu principal interesse de investigação e enquadramento conceptual das suas práticas de ensino e criação.
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Ana Albuquerque, Colar | Necklace A Medida do Palmo - do Coração ao Umbigo - do Partilhar ao Centrar, 2018. MUDE.J.0088. ©MUDE_Luisa Ferreira, 2020
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Ana Albuquerque, Colar | Necklace A Medida do Palmo - do Coração ao Umbigo - do Partilhar ao Centrar, 2018. MUDE.J.0088. ©MUDE_Luisa Ferreira, 2020
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A JOIA COMO MEIO DE CONSCIENCIALIZAÇÂO DO CORPO E DO ESPAÇO QUE O RODEIA. O conhecimento do corpo ocupa um lugar central na procura que o homem enceta sobre si mesmo e sobre a sua relação com o outro, com a natureza, com o espaço envolvente e com os objetos circundantes. Considerado como unidade de medida, o corpo tem sido ao longo da história fundamento para a definição de sistemas e modelos idealizados, sendo também referência essencial para as artes e para o desenho de objetos, construções, lugares e cidades. Interessa-nos olhar para a natureza conceptual e crítica da joalharia contemporânea, em relação com outras manifestações artísticas, para analisar o valor que a joia tem, enquanto objeto corporalizado, para a consciencialização do corpo e do espaço que o rodeia. Para tal, analisamos a obra de alguns artistas e designers em Portugal, de diversas gerações, que têm tomado o corpo como objeto principal de reflexão para compreender as diferentes figurações que este tem assumido. O propósito é refletir de que modo estas propostas evidenciam a forma como o conceito de corpo é compreendido nos dias de hoje, em relação com as questões da identidade e perceção do real.
 
BÁRBARA COUTINHO (Lisboa, 1971) é historiadora de arte, diretora e programadora do MUDE – Museu do Design e da Moda desde 2006, e professora auxiliar convidada do Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa, onde leciona Teoria e História de Arquitetura. É licenciada em História de Arte, mestre em História de Arte Contemporânea, pós-graduada em Educação em História de Arte e doutora em Cultura e Tecnologia em Arquitectura com a tese «O Espaço Expositivo como Obra Total de Arte – O Museu do Século XXI, um Lugar para Uma Experiência Estética Global». O seu trabalho divide-se entre o ensino, a curadoria e a escrita, tendo como principal campo de investigação a museologia, a prática curatorial e o espaço expositivo, com enfoque nas inter-relações entre os vários campos do design, a arte contemporânea e a arquitetura.
JOÃO PAULO QUEIROZ (Aveiro, 1966) fez o Curso Superior de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. É mestre em Comunicação pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e doutor em Belas-Artes pela Universidade de Lisboa. É professor na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e professor nos cursos de doutoramento em Ensino da Universidade do Porto e de doutoramento em Artes da Universidade de Sevilha. É coordenador do Congresso Internacional CSO Criadores sobre Outras Obras (anual, desde 2010) e diretor das revistas académicas Estúdio, Gama, e Croma. É coordenador Congresso Matéria-Prima, Práticas das Artes Visuais no Ensino Básico e Secundário anual, desde 2012). Dirige a revista Matéria-Prima. É membro de diversas comissões e painéis científicos, de avaliação, e conselhos editoriais e consultor da Fundação a Ciência e Tecnologia, Portugal. Atualmente, é presidente do CIEBA – Centro de Estudos e Investigação em Belas-Artes e presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, Portugal. Com diversas exposições individuais de pintura, em 2004 foi distinguido pela Academia Nacional de Belas-Artes com o Prémio de Pintura Gustavo Cordeiro Ramos.